A cultura e o natural

O que nos diferencia dos animais? A fala, o pensamento, a capacidade criativa? Por vezes nos surpreendemos com os animais, principalmente com aqueles que se encontram nos níveis de inteligência mais altos; percebemos muitos deles, demonstrando afeto, ódio, prazer, dor ou sofrimento. E ai nos perguntamos, será que meu animal de estimação pensa? E se pensa, o que será passa em sua mente? O que será que há de diferente em relação ao meu pensamento?
      
      Também encontramos na natureza outros animais que não aparentam demonstrar níveis de inteligência tão altos, mas antes vivem impulsionados pelo instinto, como os insetos por exemplo. Por exemplo, existe uma espécie de vespa que constrói um casulo onde deposita seus ovos e ao lado dele insetos que sua cria irá se alimentar ao nascer; caso, retirarmos os insetos e o ovo, ainda assim a vespa vai construir todo o casulo, como se eles ainda existissem; esse comportamento é instintivo, não leva em consideração a finalidade da fabricação. A palavra instinto significa: impulso ou inclinação. E neste ponto, há diferença em relação aos seres humanos e alguns animais, o agir pelo instinto é próprio dos animais, mesmo aqueles que são naturalmente mais inteligentes como macacos e cachorros, possuem comportamentos instintivos, o homem atua usando inteligência, finalidade e por vezes adapta sua ação, produzindo meios nas mais variadas situações para vencer um obstáculo. Por exemplo, os macacos por mais inteligentes que sejam, continuam subindo em árvores e fogem quando há perigo; o homem adapta-se aos obstáculos, foi capaz de criar carros, navios e aviões e se antes fugia diante de uma ameaça, uma onça, por exemplo, desenvolveu meios para enfrenta-la, como as armas de modo geral. Ou seja, a capacidade criativa e adaptativa do homem é superior a dos animais.
            O uso da inteligência dá ao individuo a capacidade de responder as mais variadas situações de maneira criativa e imediata. Os animais que mais se aproximam desta capacidade criativa, própria do ser humano, são os chimpanzés. Em um dos experimentos do psicólogo Wolfgang Köhler nas Ilhas Canárias, um chimpanzé faminto não conseguia alcançar as bananas penduradas no alto da jaula, depois de um tempo o animal resolveu puxar um caixote, conseguindo alcançar as frutas subindo nele. Segundo o especialista a atitude do animal não foi imediata, mas ele levou um certo tempo, até estabelecer a relação entre caixote, a altura e as frutas.
            Outro detalhe interessante está na forma de comunicação existente entre as mais variadas espécies. Através de uma dança, as abelhas indicam onde há pólen, o cachorro comunica-se através do latido, de seu rabo e de alguns outros comportamentos, entretanto, por mais que notemos que os animais apresentam características comunicativas, nenhuma delas se aproxima no formato humano de simbologia que há entre as palavras, letras, o som que elas possuem e o significado que elas possuem. O homem é um ser que fala!
            Através da palavra que nos posicionamos no tempo, lembrando o que ocorreu no passado, antecipando o futuro pelo pensamento, a linguagem nos permite nos distanciar do mundo e nos aproximar dele, e também nos possibilita transformá-lo. O mundo que resulta do pensar, não é natural, pois se encontra modificado e ampliado por nós, enquanto os animais permanecem naturais, nós transformamos este mundo em cultura.
            Cultura tem diversos significados, desde o cuidado com a terra no plantio, até para simbolizar alguém “letrada”, alguém culto. Mas, no ponto em que estamos estudando, cultura significa tudo o que o ser humano produz e constrói em sua existência, é o conjunto de símbolos criados por um povo. A cultura é múltipla, variam de acordo com as formas de pensar, de agir, de valores de cada povo; as expressões artísticas, modos de interpretação e de convivência diferenciam-se de povo para povo.
            A cultura é construída ao longo do tempo, pelos diversos componentes de uma sociedade, suas crenças e aspectos ambientais. Como a prática de ingerir bebidas quentes pelos Russos, foi motivado inicialmente pelas baixas temperaturas no país, a existência de lareiras nas casas também foi provocado pelo aspecto ambiental, a forma devotada a natureza e desprendida de bens materiais dos monges Tibetanos, tem relação com suas crenças e religião; mas, esses aspectos ficaram tão “enraizados” nestes povos, que tais detalhes acabam se tornando parte de sua cultura e geração após geração, roupas, comportamentos e crenças continuam sendo repetidas, às vezes quase que de maneira inquestionável, fazendo parte dos aspectos característicos de um povo, como notamos nas fotos anteriores.
            Todas as diferenças existentes no comportamento de uma sociedade é resultado da maneira pela qual nela foram organizadas as relações entre os indivíduos. Entretanto, embora estejam “enraizados” os aspectos culturais, sofrem influencias e alterações ao longo do tempo, pelas novas crenças, valores e maneira de enxergar o mundo das gerações que se seguem.
            O filosofo alemão Martin Heidegger chama o mundo do “se”, equivalente a “gente”, “nós”. Veste-se, come-se, comporta-se não como cada um quer, mas da maneira que a maioria quer.
         
   Que aspectos culturais, você nota que está sendo questionada em nosso tempo?
            Na Grécia Antiga houve o rompimento da cultura mística para a do refletir, na época do Renascimento da democratização do saber e em nosso tempo, vivemos a era da sociedade da informação e do conhecimento, de maneira radical todos setores da vida humana tem sido alteradas, a influência da mídia, a velocidade das informações, a força de uma rede de comunicação, modifica o mundo em apenas um clique. Cada vez aparelhos menores, mais sofisticados e com uma capacidade de manuseio maior são desenvolvidos. Sistemas de computador podem acionar uma bomba atômica, alterar dados em um banco mundial, acionar uma guerra, realizar saques e transferências financeiros, comunicar pessoas do outro lado do mundo e tudo isso de maneira fácil e rápida. Com, tal revolução, as barreiras culturais ficam cada vez menores, o que antes poderíamos fazer apenas em uma viagem, hoje podemos fazer em nossa casa. Que contato que uma criança chinesa teria com a cultura brasileira, por exemplo, há 100 anos? Caso não viesse ao Brasil, as chances eram praticamente zero. Mas, hoje basta acessar a internet e certamente muitos aspectos de nossa cultura ela conhecerá. Será que essa “mistura” tem alterado culturas tão tradicionais? Tendo em vista, que ao conhecer valores diferentes do seu e tendo um contato mais próximo, sua própria cultura estará sendo influenciada e consequentemente da sociedade que você faz parte.

            O filosofo francês Georges Gusdorf assim diz: “O homem não é o que é, mas é o que não é”. Com isso, ele demonstra que não é apenas o que as consequências fizeram dele, mas antes se antecipa ao futuro, projeta, faz plano, produz e registra a sua própria história.

O homem produz cultura, reformula cultura, somos o único ser com esta capacidade.

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